segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Parto domiciliar assistido: abandono científico e tecnológico?

     Casos recentes tem trazido à tona discussões sobre Parto Domiciliar e, enquanto grupo que se propõe difundir informações sobre parto, gestação e temáticas relacionadas, queremos contribuir com a construção de conhecimento sobre o tema.

     Algumas perguntas para nos provocarmos:


  • É permitido escolher por um parto domiciliar?
  • Quem pode escolher?
  • Quem acompanha ou deve acompanhar um Parto Domiciliar? Parteira/o? Doula? Enfermeira/o? Médica/o?
  • Parto Domiciliar é menos ou mais seguro que Parto Hospitalar?
  • Por que as famílias estão buscando o parto domiciliar?

     Bem, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza como direito reprodutivo que  a mulher ou a família escolham se desejam que seu(s) filho(s) nasçam no contexto doméstico, por meio de um Parto Domiciliar ou hospitalar. Nisso, muitos já podem se posicionar de forma contrária, sim, mas vamos avançar um pouco nessa discussão?

     Primeiramente, a OMS e nós aqui também, estamos considerando a realização de um Parto Domiciliar planejado, assistido por uma equipe de profissionais capacitados. Este deve seguir protocolos de segurança e, o primeiro ponto a ser respeitado é: a gestação deve ser de baixo risco ou risco habitual

     Existem outros aspectos no Parto Domiciliar a serem considerados também, tais como:

     - Local: O Parto Domiciliar deve ser realizado próximo a uma unidade hospitalar que garanta vaga para a mulher e o bebê, caso seja necessária uma transferência, e com um meio de transporte adequado para ambos.

     - Equipe: A equipe deve ser especializada e experiente neste tipo de serviço, pode ser composta por médica/o obstetra e/ou enfermeira/o obstetra e/ou obstetriz devidamente habilitados e registrados. Leia aqui. As equipes procuram prestar assistência em 2 a 3 profissionais como recomendado na maioria dos países e pelo menos um desses profissionais deve ser especializado em reanimação neonatal. 
   No Brasil existe um hospital do SUS, que disponibiliza equipes para atendimento de parto domiciliar, é o Hospital Sofia Feldman de Belo Horizonte MG, é referência em atendimento obstétrico de qualidade e humanizado, para saber mais clique aqui.

     - Estrutura: A equipe deve contar com todos os equipamentos, materiais e medicações necessárias para a realização do parto de baixo risco e para poder intervir de forma segura em possíveis intercorrências, garantindo a saúde de mãe e do bebê e possibilitando a realização de uma transferência segura para o hospital em caso de necessidade.

    - Plano B: Quando ocorre uma intercorrência no trabalho de parto a gestante deve ser  transferida para o ambiente hospitalar e atendida por um medico obstetra, pois deixa de ser um quadro de baixo risco. É muito importante que a parturiente possa contar com um obstetra que esteja ciente das suas escolhas e que esteja de prontidão para a atender, comumente é o profissional que a acompanhou no pré-natal.

     - Apoio: A doula por sua vez, como já afirmado em outros textos aqui do Gesta Pato Branco, é um profissional habilitado para dar apoio físico e emocional a parturiente, no entanto, não é habilitada a realizar procedimentos técnicos. Ou seja, pode integrar uma equipe durante um Parto Domiciliar, assim como no hospitalar, mas jamais realiza qualquer intervenção invasiva ou seja Doula não faz parto.
 
    Sobre a segurança em Partos Domiciliares e Partos Hospitalares planejados e de baixo risco, há o texto da médica obstetra PhD Dra. Melania Amorim, clique aqui, que é bastante pertinente. Ele compara diversos estudos nacionais e internacionais. As conclusões mostram que o risco é próximo em ambos os contextos de parto (por exemplo, risco de óbito fetal/neo natal de 0,15% em Partos Domiciliares e 0,18% em Partos Hospitalares).

    De acordo com bibliografias da área, muitos são os motivos que levam famílias a procurar por um parto domiciliar. Evitar a violência obstétrica e pediátrica é o principal fator. Os partos hospitalares, na grande maioria das vezes, ainda são marcados por intervenções muitas vezes desnecess
árias, e, portanto não humanizados. Algumas práticas que, se rotineiras, desrespeitam a fisiologia e o protagonismo da mulher são:

  • Obrigar a parturiente a ficar deitada, sendo indicado ter liberdade para se movimentar, tanto para alivio das dores quanto para uma evolução mais rápida e favorável da dilatação;
  • Privação de água e comida; 
  • Obrigar a gestante a ficar em litotomia (deitada de costas) durante o período expulsivo (descida do bebê), sendo essa a posição mais desfavorável para nascimento;
  • Uso rotineiro de ocitocina sintética, que aumenta muito os relatos de dor e o risco de sofrimento fetal;
  • Realização de episiotomia (corte na vulva e períneo) a qual gera danos e é desnecessária em um parto bem conduzido;
  • Manobra de Kristeller (na qual uma pessoa pressiona e empurra com o antebraço a barriga da gestante a fim de "ajudar" o bebê a nascer), totalmente desnecessária, não recomendada pela OMS, pelo Ministério da Saúde e abolida em muitos países, por estar relacionada a danos à mãe e ao bebê;
  • Afastamento do recém nascido da mãe;
  • Corte precoce de cordão umbilical, privando o bebê de receber o sangue que estava na placenta e fará falta principalmente no primeiro ano de vida;
  • Procedimentos agressivos e desnecessários no recém nascido;
  • Não cumprimento da lei do acompanhante;
  • Violência verbal e psicológica. 
(Apenas citamos algumas intervenções desnecessárias, para saber mais sobre parto humanizado clique aqui.) 


   A bibliografia sobre Parto Domiciliar planejado aponta que este permite que a parturiente se sinta mais à vontade e acolhida com a presença de pessoas que ela quer (sem a restrição de apenas um acompanhante). Tamb
ém registra um numero menor de intervenções desnecessárias, pois as equipes costumam adotar praticas humanizadas  e respeitar a fisiologia do nascimento. Além disso, há menos casos de infecção, uma vez que os microorganismos presentes no ambiente domiciliar são habituais durante toda a gestação, então o bebê nasce adaptado a eles. Esses são outros fatores que pesam na escolha de famílias pelo parto domiciliar. 

    Vale lembrar que o Brasil possui um índice elevado de cesarianas desnecessárias e realizadas precocemente e fora do trabalho de parto, com altas taxas de prematuridade iatrogênica (bebês retirados do útero antes do tempo).


    O que se percebe é que a escolha e decisão por um Parto Domiciliar não depende unicamente do desejo da gestante ou família por ter critérios de segurança e de equipe a serem respeitados. Assim, a realização de um Parto Domiciliar não renega conhecimentos científicos ou quaisquer profissionais da saúde. Ao contrário: depende sobremaneira destes para ser tão seguros ou mais do que partos hospitalares. Infelizmente, não há risco zero em qualquer um dos contextos.

    Às gestantes e famílias que desejam um Parto Domiciliar, a recomendação é seguir protocolos de segurança, buscar muita informação e profissionais habilitados, capacitados e com experiência.

Para ler:
Parecer do Cofen sobre o recente caso de Ponta Grossa clique aqui.
Textos para entender melhor sobre parto domiciliar clique aqui.

Fonte da imagem: http://anapaulabatista.com.br/index.php/parir-sorrindo-uma-historia-de-parto-domiciliar/

terça-feira, 10 de maio de 2016

Quem somos?

Olá!

    Somos quatro mulheres unidas pelas experiências da maternidade. Nossos caminhos se cruzaram na busca por nascimentos respeitosos, busca essa que fora mobilizada pelas nossas diferentes vivências. Enquanto algumas de nós vivenciaram nascimentos respeitosos e desejavam ter meios de promover isso para outras mulheres, bebês e famílias, outras de nós viveram situações de violência e, por não desejarem essas vivências para outros, também queriam meios de promover mudanças.
    Juntas retomamos e integramos o Projeto Gesta, um projeto voluntário, o qual anteriormente havia iniciado com a parceria da Lucilene e da Elizangela Catani Zuffo, nossa parceira até hoje.
    A ideia de formar um grupo de apoio à Maternidade Ativa, tomou corpo ao longo de mais de um ano, e atualmente compartilhamos informações científicas embasadas, com o objetivo de acolher e aproximar famílias que buscam vivenciar de forma ativa a gestação, o parto e o desenvolvimento dos vínculos familiares.
    Acreditamos e almejamos que, deste modo, junto com o nascimento dos filhos, nasçam famílias conscientes e seguras de suas decisões.



Quer saber um pouco mais sobre nós, coordenadoras do Gesta Pato Branco? Lê aí:

- Meu nome é Lucilene, sou psicóloga graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2008 e lá, além de disciplinas vinculadas à Psicologia da Gravidez, família e desenvolvimento humano, pude atuar por um ano na Maternidade do Hospital Universitário da UFSC com, entre outras demandas, acompanhamento emocional do processo de parto e nascimento e com estimulação da vinculação mãe/pai-bebê. Entre outras, tenho formação em Psicologia Hospitalar e sou Mestre em Desenvolvimento Regional. Por quase 5 anos atuei como Psicóloga Escolar e também como professora de graduação em Psicologia, e há 7 anos atuo em meu consultório. Sou casada e tenho uma filha. Minha bebê nasceu aqui em Pato Branco, por meio de um parto normal hospitalar e humanizado. A compreensão teórica e a experiência prática da minha formação me deram base para eu saber, muito antes de engravidar, como queria ter meu bebê. Isso, informação e um tanto de preparo, somado ao fato de encontrar profissionais dispostos a humanizar e ter formado uma equipe com minha bebê e meu marido, fez com que o parto fosse de acordo com o que eu e meu marido considerávamos ser o mais adequado para nossa filha e eu. Montar esse grupo é um sonho que se realiza por acreditar que precisamos de segurança emocional, que devemos ser protagonistas de nossas vidas e contribuir para a coletividade, que compartilhar informações possibilita conhecer e quem conhece é capaz de fazer escolhas mais adequadas e seguras para si e aos seus. Isso exige conhecimento de si, informação baseada em evidências e uma rede de apoio. Esta pode ser formada também pelo Gesta. Vem!?

- Eu sou a Denize, mãe, fisioterapeuta e doula. Minha história profissional e pessoal se misturam, sou casada com o Ivan Bonaldo, também fisioterapeuta, e juntos temos uma clínica. Nossa filha chegou há dois anos e nasceu em uma cesárea necessária intra-parto, e foi ela e toda a transformação que a maternidade me trouxe que me uniu a esse grupo. Durante minha gravidez tive contato com o mundo da Humanização e assim planejei meu parto, mas como tudo na vida e principalmente na maternidade, aprendi que não temos total controle dos acontecimentos e o parto não foi como eu havia sonhado, mas foi como precisava ser naquele momento. Levei um bom tempo para digerir tudo o que aconteceu, e nesse processo vi que a presença de uma doula me fez muita falta e poderia, talvez, ter mudado o rumo dos fatos, por isso decidi fazer o curso de Doula, pelo Gama (Grupo de Apoio a Maternidade Ativa) em Cascavel. Acredito que o amor é capaz de mudar o mundo, e é esse sentimento que me move em busca de partos respeitosos, recepções amorosas aos bebês e muito apego na criação, e é isso que buscamos através do Gesta.

- Oi! Eu sou a Carla, mãe do Bento que nasceu em 2014 e maravilhosamente transformou minha vida. Mas o inicio da minha maternagem foi turbulenta! Durante a gestação tinha a certeza de querer um parto normal natural, sem aquelas intervenções desnecessárias e aterrorizastes que tinha conhecido durante minha formação em Fisioterapia. Estudava dedicadamente como amamentar pois sabia que seria difícil. Me dediquei ao quartinho e ao enxoval como uma capricorniana perfeccionista! (Ah se eu soubesse que isso era dispensável!) Quase tive meu sonhado parto, mas acabei em uma cesárea digna de filme de terror. A amamentação foi muito sofrida, tive muitas "orientações" equivocadas que resultaram em uma alergia à proteína do leite de vaca - APLV no meu filho e um quase desmame precoce. Tive a bênção de um anjo bater em minha porta e me ajudar! Em meio ao puerpério e toda a turbulência que estava enfrentando na minha vida, me dediquei a estudar e entendi que eu deveria ter me informado mais sobre o parto e os cuidados com o meu bebê, que a escolha deveria ter sido minha, era o meu corpo, meu filho e minha responsabilidade. Entendi que o sistema nos coloca como passivas, de forma aceitar o que nos é imposto, sem questionamentos. Temos uma falsa ideia de escolha, mas na verdade você só tem escolha quando conhece todas as suas opções. Toda essa experiência despertou em mim o desejo de querer ajudar, apoiar, acolher e orientar outras mães. Desde então, estou trabalhando no grupo Gesta.

- Sou Luciele, mãe da Naiara, Theo e Helena. Me formei Médica Veterinária em 2012 e logo em seguida iniciei Pós Graduação em Gestão da Qualidade em Alimentos. Neste meio tempo engravidei do Theo e fui apresentada pelo "destino" ao Parto Humanizado. Lutei com todas as armas disponíveis por um nascimento respeitoso para nosso segundo filho e uma experiência amorosa para nossa família. E assim foi. Theo nasceu de Parto Normal Humanizado após uma cesárea, e foi lindo renascer junto dele. A vivência foi tamanha, que ganhou meu coração e virou "bandeira". Foi a partir do nascimento do Theo que a minha concepção de vida e mundo se transformou. Consegui perceber o quão valioso é para a mulher se sentir acolhida e respeitada neste momento tão singular da sua feminilidade. O quanto isto se reflete no seu puerpério e na nova vida que a aguarda. Na sua nova personalidade, no seu Eu Mulher. Hoje, com novos rumos e metas, passei a ter como propósito, colaborar para que vivências tão ricas como a minha possam ser vividas por muitas famílias. Para isto, me formei recentemente Doula e também Consultora em Aleitamento Materno, minha ocupação atual. Dei início, também, a uma nova graduação: Psicologia. Assim, sigo feliz e repleta de gratidão à cada porta aberta. Me sinto enaltecida por cada família que me oportuniza auxiliar na formação de vínculos amorosos e experiências positivas.

quinta-feira, 28 de abril de 2016





Nossa "sessão de cinema" está chegando, e esse clima esta super propício pra isso!
Preparem a pipoca e os lencinhos, e não esqueça de convidar todas aquelas pessoas que irão te apoiar e acompanhar nessa jornada de parto e maternidade, vale companheiro, vô, vó, sogra, tia cunhada, amiga, comadre!
Não é necesssário qualquer inscrição, é só chegar pontualmente no Casa De Apoio Gama, a entrada se dá pelo portão dos fundos, e vir de mente e coração abertos para compartilhar conosco!

quinta-feira, 3 de março de 2016

Vamos falar sobre Plano de Parto?


Você sabe o que é um plano de parto? Já ouviu falar sobre ele ou no que ele pode te ajudar?


***Recomendado pela OMS no seu Guia prático atenção ao PN- 1996 como primeiro item da lista de “práticas demonstradamente uteis e que sevem ser estimuladas”.***



Vem comigo entender essa poderosa ferramenta que irá te ajudar a viver um parto respeitoso e de acordo com as suas expectativas.



O que é o plano de parto?
É um documento individualizado, sem valor legal, criado pela gestante/casal depois que ela se informou, refletiu e escolheu a forma como ela quer vivenciar esse evento, que será compartilhado com a equipe que irá acompanhar seu parto (hospital, médico, enfermeira obstétrica, doula, etc). Nele ela expressa seus desejos a respeito dos procedimentos que serão adotados com ela e com o bebê.

Por exemplo sobre a realização da epsiotomia, aquele "cortinho" na vagina com o objetivo de teoricamente acelerar o nascimento e evitar laceração do períneo:se  a mãe foi estudar e encontrou evidências cientificas de que a episiotomia de rotina em sí já é uma laceração de segundo grau, que aumenta a chance de lacerações maiores, e que se não realizada num parto que respeite a fisiologia as chances da mulher não ter laceração de períneo chegam a mais de 60%, entre outras coisas, e a mulher se convenceu de que não quer que ela seja realizada ela vai expressar isso no seu plano de parto. Mas se a mulher leu sobre tudo isso mas ainda se sente insegura nessa questão ela irá expressar seu desejo, de que caso o médico/enfermeira obstétrica julguem necessário, que a epsiotomia seja realizada.

Deu pra entender que o plano de parto não é uma receita de bolo, aplicável a todas as mulheres, mas que deve ser feito a partir de muito estudo, e adaptado às crenças de cada gestante?

Quais as vantagens de se ter um plano de parto?

  • a primeira e mais importante é garantir que a mulher/casal esteja ciente de todas as suas opções, se empodere e sejam ativos em seu parto;
  • Promover diálogo entre a mulher e a equipe, permitindo que a equipe possa conhecer as individualidades de cada mulher e dar a ela a melhor assistencia dentro das suas expectativas;
  • Criar um ambiente de comprometimentoe co-resposabilidade entre casal e equipe
  • Diminuir também a pressão sobre a equipe de saúde, que sabendo ser um casal informado, não precisará agir preventivamente.
Mas e se as coisas não sairem como planejadas?


O plano de parto não é de maneira alguma um roteiro rígido da ordem dos fatos ou da maneira como eles irão ocorrer, pois nenhum parto é igual, nem mesmo dois partos da mesmo mulher. A gestante precisa estar aberta e flexível para o que possa acontecer durante o trabalho de parto. Por isso, o plano de parto deve conter sempre um "plano b", "plano c"... quanto forem necessários.

Por exemplo, quando eu tive minha filha eu não fiz plano de parto, não me preparei pra necessidade de uma cesárea e nem conversei com meu médico sobre isso, e foi necessário uma cesárea intraparto... naquele momento fragilizada pela dor e surpresa com tudo o que estava acontecendo eu não tive forças de dizer ao médico ou a pediatra que nos acompanhava que eu desejava que meus braços fosse soltos pra que eu pudesse pegar a minha filha e ter nosso contato pele-a-pele, infelizmente isso deveria ser rotina mas não é, e eu só tive miha filha aproximada do meu rosto brevemente e logo ela foi levada para longe de mim para os procedimentos padrões. E foi isso, muito mais que o fato de ter necessitado de uma cesárea, que me deixou frustada e que ainda me traz uma sensação de aperto no peito quando lembro daquele dia, pois sonhei com o momento que eu receberia ela nos meus braços a gestação toda, e quem sabe se isso tivesse sido discutido com a equipe antecipadamente nós teríamos tido nossa "hora de ouro"

Num plano de parto bem feito e consciente todas as possibilidades são pensadas, e a cesárea é incluída nele, porque embora a mãe seja passiva durante a cirurgia, algumas coisas podem ser acordadas com a equipe, pra que esse momento possa ser vivido de maneira humanizada, como no exemplo, expressar seu desejo de contato pele-a-pele entre outros.

Como faço meu plano de parto?
Primeiro pesquise e se informe sobre os procedimentos que podem ser adotados durante o parto, procure informações sobre os prós e contras, reflita no que eles significam pra você e faça suas escolhas. Existem alguns modelos que podem servir como base pra que você adapte.

Livros e filmes, publicações da internete, documentos do ministério da saúde, da OMS, relatos de parto e grupos de apoio como o Gesta podem te ajudar.
Se você for contar com o apoio de uma doula ela te ajudará nessa busca e a montar seu plano de parto.


Denize Penteado
Fisioterapeuta e Doula


Obs: clicando nas palavras sublinhadas você será encaminhado para links referentes aos assuntos, não fique somente nesses links, mas use-os como ponto de partida. Ficou molezinha, não?! :)

domingo, 21 de fevereiro de 2016

O tipo de parto define o sucesso na amamentação - Mito ou verdade?

Esse encontro é pra você récem-mãe, sentindo na pele a beleza e os desafios da amamentação...
Mas também é pra você mãe que amamenta a mais tempo, mas que sempre tem dúvidas  e mitos a esclarecer...
É pra quem está grávida e quer a oportunidade de se preparar e empoderar...
Ou pra você que já amamentou e que pode nos ajudar trocando experiências...
Ou pra você que queria amamentar e não conseguiu não importa o motivo, compartilhar sua experiência pode ajudar a outras mães e te ajudar...
Muito importante: é pra você Pai!!! Seu apoio é fundamental pra sua companheira...
E também para os avós que querem ajudar e apoiar de forma efetiva...
Enfim é para todos que acreditam na amamentação e sabem que boas informações, livres de mitos devem ser espalhadas aos quatro cantos, pra que cada vez mais mães-bebês possam viver essa experiência da melhor maneira possível.



quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Desejamos que esse seja um ano de boas mudanças!

   
   O Gesta Pato Branco deseja que neste ano aconteçam muitas mudanças, que as velhas e ultrapassadas práticas obstétricas sejam revistas e descartadas, dando espaço para uma medicina baseada em evidências, onde a mulher e o bebê são respeitados e colocados em primeiro lugar. 
   Que toda gestante receba todas as informações sobre o parto e a recepção do seu bebê e seja verdadeiramente preparada para esse momento
   Que o bem estar da mãe e do bebê sejam mais importantes que a comodidade, conveniência e agenda médica.
   Que os casos de violência obstétrica sejam extintos.
   Que toda mulher possa ter uma Doula - que não é parteira e sim uma profissional que dá apoio e leva conforto a parturiente, ou seja não faz parto mas faz parte <3 - para passar pela gestação, parto e pós parto de maneira mais leve e tranquila.
   Que toda mulher tenha incentivo e orientação adequada para amamentar seu filho. A amamentação não é fácil para a grande maioria das mulheres e infelizmente muitos bebês são desmamados precocemente.
   Que as mulheres se empoderem, busquem informação e sejam protagonistas dessas mudanças. Acreditamos que você só tem escolha se conhecer todas as suas opções.
   


   Para começar bem o ano vamos deixar um relato de parto escrito e vivido pelo Dr. Ricardo Jones. É disso que precisamos, uma obstetrícia que entende, acredita, respeita e sabe conduzir um parto.

O relato do parto "impossível"
Por Ricardo Jones, obstetra.

   "Uma paciente me procurou há 10 dias para consultar. Grávida de 37 semanas me procurou porque sua médica estava de férias e a substituta que ela havia indicado não lhe agradou. Quando ela entrou no consultório eu me assustei com a barriga. Era realmente muito grande, mas ela é uma mulher corpulenta, 1,68 m, e gordinha.
   Veio com uma pilha de ecografias (é obvio) sendo que a última prenunciava um feto de +/- 4.500g. Diante disso, tanto a sua médica como a substituta foram taxativas: "é cesariana, porque não vai passar." Para complicar essa paciente tinha uma cesariana prévia, com um bebê de 36 semanas (8 meses) por DHEG (pré-eclampsia) e 4.300g.
   Tinha uma leve alteração da glicemia no último exame realizado há 1 semana. Macrossomia, cesaria prévia, diabete gestacional leve. Precisa mais? Ela me disse que queria deixar matcada a cirurgia, "já que precisava ser cesariana"...
   Foi então que eu perguntei a ela: - O que vc gostaria que fosse?
   Ela me respondeu: - Ora doutor, eu preferiria parto normal, que a gente pode ir pra casa mais rápido.
   Então eu lhe disse: - O destino do seu parto só depende de vc. Se vc quiser ter seu filho de parto normal esse é um direito seu, que ninguém pode te retirar. O que conta nessas situações é o desejo, a vontade, a confiança que vc deposita em vc mesma.
   Ela sorriu e disse: - Mas doutor... eu quero ter meu filho de parto normal. Mas meus médicos disseram que era impossível por causa da cesariana anterior, da diabete, do tamanho do bebê, e...
   - Isso é secundário. Nada nem ninguém é mais forte que a tua força de vontade e o teu desejo.
   Ela sorriu, e combinou de voltar com o marido.
   Ela consultou comigo ontem a tarde. Ao exame de toque ela tinha um bebê muito alto na pelve e uma dilatação de uma polpa. Tinha contrações esporádicas e fracas.Pedi que ela me ligasse se as contrações viesse a ocorrer. Esta manhã ela me ligou dizendo que estava com contrações mais fortes e pedi-lhe que retornasse ao meu consultório para uma nova avaliação. Ali já havia se instalado o trabalho de parto, e ela tinha 3-4 dedos de dilatação, mas o bebê continuava alto. Pensei comigo "será que desce? será que não está apenas dilatando pra depois trancar no estreito médio?". Estes meus pensamentos se exteriorizavam com um sorriso benevolente. Puro cinismo, eu confesso. Mas era para uma causa nobre: insuflar confiança nas suas capacidades. Apostar na sua força e competência para ter seu filho.
   Algumas horas mais tarde ela me ligou (na verdade o marido, dizendo que a mulher estava "quase desmaiando"...) e eu solicitei que fosse ao hospital. Ela mora em uma cidade vizinha, portanto nem se cogitou em fazer um parto domiciliar (além do tamanho presumido e da cesariana prévia). Lá chegando, às 14 h, estava com 6 cm e uma apresentação ainda muito alta.
   - Vamos caminhar mulher, disse eu com uma risada... precisamos fazer este bebê descer. Nada como um bom passeio.
   A Zeza (minha mulher e enfermeira obstetra) me acompanhava no hospital, e lá se foi ela caminhando com a paciente pelos corredores.
   Ok, vou encurtar a história. Às 16 horas estava com 8 cm, às 18 h com 9. Completou a dilatação às 20:30, mas sempre com uma apresentação alta.
   Foi quando ela me chamou no quarto e disse:
   - Eu devia ter escolhido aquela outra médica. Ela já teria me livrado desse suplício. Porque esperar tanto? O senho não me diz a que horas vai nascer... Porque isso tudo? Porque não inventaram uma coisa mais humana para se ter filhos?
   Depois de respirar fundo e ficar em silêncio resolvi fazer um novo toque. Dilatação completa, bolsa íntegra, plano + 1 de De Lee. Ainda estava alto, mas já havia descido.
   Foi então que eu dei minha cartada final.
   - Ok minha flor. Vc é que sabe. Se vc diz que não pode aguentar mais eu acredito no que tu dizes. Se vc quer terminar esse "suplício" como vc diz, então vamos lá. (ela não tinha muita dor.  Conheço cara de mulher com muita dor. Ela tinha medo, angústia, apreensão. E cansaço) Então vamos te operar. É só chamar o anestesista e o auxiliar. Mas tem uma condição: Eu só farei essa cirurgia se vc olhar no fundo dos meus olhos e disser pra mim que não aguenta mais, que está no seu limite, que não pode mais esperar, e que vai querer uma cesariana com a dilatação completa. Essa decisão vai ser sua, e seja qual for eu vou obedecer. Se eu fizer esta cesariana será uma das mais absurdas da minha vida, mas eu acreditarei em vc e obedecerei a sua decisão. (peguei pesado, fui firme... será?)
   Ela me olhou com olhos de súplica. Tentou balbuciar algo tipo "mas quanto tempo ain..", mas eu lhe cortei: - O tempo vai depender de vc. Pode ser alguns minutos e pode ser algumas horas ainda. Nada posso te prometer, a não ser ficar do teu lado aguardando e avaliando a ti e ao teu bebê.
   Ela baixou o olhar. Olhou de novo para mim e disse:
   - O que eu preciso fazer, Dr?
   Ufaaaa... por uns instantes temi por ela. mas ela foi forte...
   Aí entrou a magia das mulheres... Eu lhe disse: - Vc está com a dilatação completa. Está sem nada na frente do seu bebê. Pode fazer força se quiser. Pegue na mão da Zeza e saia caminhando com ela até o chuveiro. Fiquem lá vcs duas, fazendo força, de cócoras, e conversando, ok?
   Ela concordou e lá foram as duas.
   Saí da sala e anotei num papel o nome e telefone do anestesista e da minha auxiliar. Pensei comigo: não vou usar estes números, ela vai conseguir...
   Passaram-se uns 20 minutos e entra a Zeza na sala esfregando as mãos. Olhei pra ela sem entender...
   - Coroou, disse ela. Tá ali !!!
   Não acreditei... estava muito alto ainda. Tão rápido assim?
   Fui até o chuveiro e entrei quase debaixo da água... Lá estava ele !! Estava saindo mesmo !!
   Logo foi para a mesa da JICA (para parto de cócoras).
   Mais alguns minutos e lá vinha vindo ele. Devagarinho.. Me assustei com o tamanho da cabeça. Era muito grande. Mas o desprendimento era suave, tranquilo.
   O perínbeo suportou muito bem.. Vinha vindo, vinha vindo...
   Ela olhos pra mim e eu disse. - Sei que estás com uma contração...    Deixa ele nascer. Não tenha medo. Vc vai conseguir.
   Uma última força e a cabeça nasceu. Grande, redonda, sem nenhuma bossa. Tive que fazer uma bela força (estou ficando um alterofilista por causa dos últimos partos) para nascer o "resto" do bebê. Quando ele nasceu eu não acreditei... Era enorme !!! Um gigante. Muito maior que a previsão...
   Chorou logo depois. Era vermelho e redondo. Eu brinquei com ela: - Parece um chinês !!!
   A pediatra não estava na sala porque havia sido chamada minutos antes para uma emergência, mas a auxiliar da pediatria ficou por perto para qualquer imprevisto. Nada aconteceu, apenas risos e alegria.
   O mais surpreendente aconteceu depois... O bebê pesou nada menos do que 5.355g. Um trabalho de parto rápido e sem NENHUMA laceração perineal. Eu falei para as enfermeiras presentes que contando ninguém acreditaria. Essa paciente deveria estar numa sala de recuperação pos-anestésica, cheia de soros e medicamentos, dopada e sonolenta, e no entanto estava amamentando seu bebê gorducho, sem nenhum ponto, sem nenhuma droga e sem nenhum problema. Apenas alegria.
   A equipe de enfermagem foi 10... o tempo inteiro iam lá trazer uma palavra de encorajamento.
   A presença da Zeza foi FUNDAMENTAL. Sem ela eu não conseguiria MESMO.
   E ficou para mim uma lição: ACREDITE SEMPRE. Acredite, porque as mulheres merecem este crédito.
   Vcs todas mulheres estão de parabéns. Uma vitória dessas é uma vitória de cada uma das mulheres do mundo. Uma vitória contra o descrédito e a desconfiança. Contra o preconceito e o sexismo."